O estoicismo foi uma escola fundada por Zenão de Cício, por volta do século IV a.C, em Atenas, durante o período da história que se chama helenismo. O helenismo é o período em que a cultura grega, após as conquistas de Alexandre, sofre um sincretismo com várias outras culturas - como a egípcia, a persa e a romana -, e se torna, portanto, a cultura dominante do mediterrâneo até a Índia. Esse período perdura até a conquista romana da península dos Bálcãs, em 146 a.C.
O grego, então, se torna a principal língua falada no mundo, e algumas cidades se tornam centros de debates intelectuais, como Atenas, Pérgamo e Alexandria. Por conseguinte, as reuniões com os ensinamentos de Zenão eram realizadas em Atenas, na antiga na stoa, um pórtico, localizado ao norte da ágora, um dos centros do debate intelectual da época. O nome da filosofia estoica é, assim, o nome do lugar onde os encontros eram realizados.
O estoicismo é uma das filosofias antigas, junto com o Cinismo e o Ceticismo, que chega ao presente não só como uma corrente filosófica, mas também como um adjetivo. Quem é atribuído com o adjetivo de estoico é considerado austero; impassível diante da adversidade e dos infortúnios da vida e que se destaca pela qualidade de sua ação; pela firmeza moral; por seu caráter incorruptível; força diante dos reveses da vida. Mas o estoicismo não é somente limitado às suas caricaturas, que foram construídas durante séculos de interpretações, principalmente de Cícero, Sexto Empírico e Plutarco – importantes doxógrafos do início do império romano, que, por sua vez, também influenciaram as interpretações cristãs e sua assimilação ao cristianismo. Nessa chave de interpretação, o estoico é retratado como um sábio impassível e indiferente, e a filosofia do Pórtico, reduzida somente ao seu pensamento ético. Para além das caricaturas, o estoicismo é uma filosofia que se caracteriza pelo seu sistema, em que a física, a ética e a lógica são indivisíveis. E é assim que Diógenes Laércio em seu livro Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, em que se refere ao sistema da filosofia estóica como um corpo único, em que cada parte depende da outra de forma inseparável:
Eles [os estóicos] dizem que a filosofia é como um animal, a lógica corresponde aos ossos e tendões, a ética seria os músculos, e a física seria a alma. De forma similar, eles a comparam com o ovo: a casca é a lógica, a clara é a ética, e a gema no centro é a física. Ou, ainda, comparam com um pomar: a lógica seria a vegetação circundante, a ética seria o fruto, a física seria o solo ou a árvore (Diogenes Laertius, Lives and Opinions of Eminent Philosophers, livro VII 40 1925, tradução livre do inglês).
Porém, com essa divisão da filosofia em três partes, os filósofos da stoá não chegam a hierarquizar as partes, mas ao contrário, elas possuem igual importância no conjunto do sistema. A Física estóica trata das especulações sobre a Natureza do Cosmos; a Lógica trata do conhecimento e da verdade a partir da Natureza e a ética trata do viver conforma a Natureza. O que une as três partes do sistema estoico de pensamento é o conceito de Lógos, ou a razão imanente da Natureza. Dessa forma, Lógos é o princípio de verdade na lógica, o princípio criativo no cosmo ou na física, e na ética, é o princípio normativo.
O sentido que mais se aproxima do Lógos estóico tem um sentido semelhante ao que Heráclito propõe: o Lógos está presente tanto no cosmos quanto no homem. O Lógos é, então, a forma de compreender a existência da vida humana, mas também é a forma de compreender o devir cósmico. Destarte, o sentido de Lógos vai além da razão puramente pensante e discursiva, atuando num sentido mais amplo: pois é o Lógos que dá forma, cria a si mesma e ordena o Todo do universo, de forma racional e rigorosa e que fixa em cada criatura a sua destinação, é princípio imanente e ordenador da Natureza. Segundo Marco Aurélio, é a razão que rege a Substância Universal, que “tudo produz e tudo completa”, e, com efeito, sabe como o Todo “está disposto, o que com ele faz e com que matéria” o faz (Meditações, livro VI, I e V). O Lógos e a Natureza são a mesma coisa, isso ficara mais claro adiante, o Todo em sua totalidade representa a realidade total e compreende o Todo, que representa a realidade do mundo, em que compreende os corpos e o vazio. É importante dar ênfase, sem cair em termos técnicos, que o Todo em sua totalidade que representa a realidade total é a noção de tó pan e a noção do Todo em que compreende o mundo e o vazio é a noção de tó hólon, o que nos importa é a concepção de tó pan, do Todo em sua totalidade absoluta.
O termo Lógos é significativo em seu emprego, pois expressa um princípio de imanência e racionalidade. Ao invés dos estoicos utilizarem o termo nous, ou seja, um termo que signifique pensamento e inteligência, eles optam por manter o sentido heraclitiano de Lógos. O termo Lógos, como já indicado, possui um significado polissêmico, além de indicar um princípio de verdade, criador e normativo, pode vir a indicar, dentro da tripartição da filosofia, o “objetivo e o subjetivo, o antropológico e o cosmológico, o gnosiológico e o ontológico”. Assim, no estoicismo o termo Lógos possui um sentido diferente do comumente usado na filosofia antiga, em especial aos sofistas que entendem que o lógos diz somente ao discurso; ou ainda a Platão que entende o lógos como parte superior da alma e também a parte racional, que sobrevive após da morte; e a Aristóteles, que entende o lógos como conhecimento universal que é o objetivo da ciência.
O estoicismo conceitua o Ser como um corpo, ou seja, tudo que existe é aquilo é capaz de agir e de sofrer uma ação de outro corpo, isto é, tudo que é e que existe possui uma existência corpórea, ou seja, em termos técnicos, é uma ontologia corporealista. Isso implica em que se o mundo existe ele é, consequentemente, em sua constituição, um corpo único, uma totalidade, e o que os une é própria Natureza, logo, ela [a Natureza] se apresenta como a lei que regula os fenômenos, como a lei ordenadora e como a alma que vivifica os corpos (pneuma), ou seja, o Lógos é inerente e inseparável na Natureza, portanto, o Lógos é imanente à Natureza.
O estoicismo mantém a dualidade causal do hilemofismo, em outras palavras, tudo é causa e matéria. O estoicismo aceita somente a noção de causa eficiente. A causa imprime uma forma à matéria (hýle). Nos termos estoicos, o Lógos ou a racionalidade imanente imprime uma forma aos corpos materiais, ou à matéria. Se o mundo é um corpo, e corpo é matéria que possui uma forma, o mundo (to hólon) recebe a forma pela razão divina, ou pela Natureza, pois “a razão (Lógos) que rege sabe como está disposta, o que faz e com que matéria” (Meditações, Livro VI, 5). Com efeito:
A substância do universo (to hólon) é dócil e maleável; a razão (Lógos) que a rege não tem em si nenhum motivo de fazer o mal; não tem maldade, não faz mal nenhum e dela nada recebe nenhum dano. Tudo se produz e completa de acordo com ela. Assim, a Física estoica elabora uma visão dinâmica, orgânica e racional da Natureza, ela é governada e ordenada de maneira inteligível e providencial, ou seja, a Providência rege de forma que tudo ocorra da melhor maneira possível. (Marco Aurélio, Meditações, Livro VI, 1).
A Natureza apresenta uma visão divina, pois, como o Demiurgo platônico, é o que dá forma a matéria, e como o Lógos e a Natureza são a mesma coisa, o Lógos é visto como algo divino e da mesma forma, a Natureza é relacionada aos deuses. Dessa forma, a Natureza é o princípio ativo, é causa a imanente e necessária, que penetra toda a matéria e todos os corpos. Esse princípio ativo possui vários nomes: mente ou alma, natureza e principalmente, é referido como o próprio Deus, com efeito:
Segundo os estoicos, os princípios do universo são dois, o ativo e o passivo. O principio passivo é substância sem qualidade, a matéria; o princípio ativo é a razão na matéria, isto é, deus. E deus, que é eterno, é demiurgo criador de todas as coisas no processo da matéria. (Diógenes Laércio, VIII, 134).
Como a Natureza e o Todo representam um corpo só, a Natureza é a própria totalidade em absoluto (tó pan), pois o mundo é “um vivente único, composto de uma única substância e de uma única alma” (Marco Aurélio, IV, 40). Dessa forma, a ordem que governa o Todo é a mesma ordem que regula a Natureza, pois “tudo de cumpre segundo a Natureza do universo” (Marco Aurélio, VI, 9). Portanto, sendo a Natureza igual ao Todo, e a Ordem do Todo é o próprio Lógos imanente, e esse Lógos é a inerente ao Todo, a Natureza e o Todo possuem a mesma essência, que é a própria razão imanente ordenadora do Cosmos. E se o Lógos é o principio racional imanente, criador, ordenador e necessário, logo, o Lógos é o próprio Deus, e sendo a Natureza o próprio Lógos, então a Natureza é o próprio Deus, assim, Deus, ou seja, a Natureza. Deus é o principio ativo, imanente, necessário, criador e ordenador. Está presente no Todo e é o próprio Todo em absoluto, é “todo o Cosmo e o Céu”. E ainda:
Cosmo tem, para os estoicos, um tríplice significado: primeiro, Deus mesmo, cuja qualidade é idêntica à de toda substância do universo; ele é por isso, incorruptível e ingênito, criador da ordem universal, que, em determinados períodos de tempo, absorve em si toda a substância do universo e, por sua vez, a gera de si. (Diógenes Laércio, VII, 148).
Dessa forma, o estoicismo é panteísta, pois acredita que Deus está no Todo, no to pan, na Natureza, no homem e nos corpos do Universo. O estoicismo é a primeira filosofia que sistematiza essa noção panteísta de Deus. Essa concepção reaparece na modernidade sobre o nome de Baruch de Spinoza. O panteísmo estoico pode ser lido como um ateísmo, pois nega uma divindade transcendente e também como um teísmo, pois a divindade é um pressuposto necessário ao sistema filósofico.
Concluo assim, indicando que essa concepção da Natureza e de Deus tem implicações na ética, pois implica na existência do ser humano no mundo. Por que a Natureza (phýsis) representa o seu sentido além do estritamente cosmológico, representa também a própria conotação da essência (phýseos) dos corpos no mundo, além da própria essência do Universo. Já que a essência, a natureza do Universo, é o Lógos imanente, a essência do humano é a também o lógos, ou seja, a razão e a capacidade de usa-la, e compreendo a nossa própria natureza é possível compreender a natureza do Todo, em outras palavras, compreendo o uso da razão, do nosso lógos, é possível entender como o Lógos, ou a razão imanente, opera a Natureza. Segundo Marco Aurélio, que admite essa importante conotação entre a Natureza e a essência do ser humano e suas implicações éticas, em suas palavras:
Deves sempre lembrar qual a Natureza do Universo, qual a minha, qual a relação entre esta e aquela, qual parte sou de qual universo e que ninguém e impede de fazer e dizer o que é consequência da natureza de que és parte. (Meditações, Livro II, 9, 1973).
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Resultados da pesquisa
terça-feira, 4 de outubro de 2016
Uma curta história do ceticismo até os tempos de Descartes
Uma curta história do ceticismo até os tempos de Descartes
I – O ceticismo antigo e o Helenismo – Pirro
O ceticismo é um termo usado como um adjetivo para qualificar
a pessoa que duvida de tudo, ou um descrente com as coisas.
Entretanto, tomar essa noção como o sentido do ceticismo é
incorrer em erros interpretativos quanto à historicidade do
termo e do seu significado filosófico. O ceticismo é antes de
tudo uma importante doutrina filosófica, e não somente um adjetivo.
a pessoa que duvida de tudo, ou um descrente com as coisas.
Entretanto, tomar essa noção como o sentido do ceticismo é
incorrer em erros interpretativos quanto à historicidade do
termo e do seu significado filosófico. O ceticismo é antes de
tudo uma importante doutrina filosófica, e não somente um adjetivo.
O movimento cético se origina num período da história chamado
helenismo, mas suas raízes podem ser identificadas nos sofistas e
nos primeiros diálogos platônicos. O helenismo se origina com a
conquista de Alexandre, o Grande, das pólis grega e do império Persa.
No caminho de Alexandre para as Índias, estava o fundador do
ceticismo,Pirro de Élis (360 a.C. — 270 a.C). Em sua jornada pelo oriente,
Pirro, entra em contato com os gminosofistas, os sábios orientais e
faquiresascéticos, que pregavam a indiferença com o mundo,
principalmente no que tange a percepção sensível.
Essa ideia será um dos fundamentos essenciais do ceticismo antigo.
Essa indiferença com o mundo é conhecida como apathéia ou apatia.
helenismo, mas suas raízes podem ser identificadas nos sofistas e
nos primeiros diálogos platônicos. O helenismo se origina com a
conquista de Alexandre, o Grande, das pólis grega e do império Persa.
No caminho de Alexandre para as Índias, estava o fundador do
ceticismo,Pirro de Élis (360 a.C. — 270 a.C). Em sua jornada pelo oriente,
Pirro, entra em contato com os gminosofistas, os sábios orientais e
faquiresascéticos, que pregavam a indiferença com o mundo,
principalmente no que tange a percepção sensível.
Essa ideia será um dos fundamentos essenciais do ceticismo antigo.
Essa indiferença com o mundo é conhecida como apathéia ou apatia.
É pela indiferença que o sábio chega à epoché, a suspensão do juízo,
e, por conseguinte, por não se perturbar por querelas teóricas e por vagas
discussões, atinge a ausência das perturbações, ou seja, à tranquilidade
da alma, a ataraxia. Entretanto, diferentemente das filosofias helenísticas
contemporâneas do ceticismo, que julgavam que a verdade era alcançável
e necessária para viver uma boa vida, o ceticismo pirrônico aplicava essa
‘apatia’ ao nível teórico. Em outras palavras, o ceticismo de Pirro estende
a sua noção de indiferença com o mundo sensível ao nível teórico.
Ao desconsiderar todas as explicações teóricas sobre como a vida deve
ser vivida, o sábio cético suspende o juízo teórico, ou do que se pode dizer
sobre as coisas, e se preocupa em viver a vida comum. O sábio, então,
somente assente a sua afecção, ou das coisas que apreende pelos sentidos,
e vive a partir dela, e não vive com nenhum pressuposto teórico sobre a
vida, nem fica especulando sobre as coisas que vão além da percepção
dos sentidos, ou seja, pelo o que lhe parece.
e, por conseguinte, por não se perturbar por querelas teóricas e por vagas
discussões, atinge a ausência das perturbações, ou seja, à tranquilidade
da alma, a ataraxia. Entretanto, diferentemente das filosofias helenísticas
contemporâneas do ceticismo, que julgavam que a verdade era alcançável
e necessária para viver uma boa vida, o ceticismo pirrônico aplicava essa
‘apatia’ ao nível teórico. Em outras palavras, o ceticismo de Pirro estende
a sua noção de indiferença com o mundo sensível ao nível teórico.
Ao desconsiderar todas as explicações teóricas sobre como a vida deve
ser vivida, o sábio cético suspende o juízo teórico, ou do que se pode dizer
sobre as coisas, e se preocupa em viver a vida comum. O sábio, então,
somente assente a sua afecção, ou das coisas que apreende pelos sentidos,
e vive a partir dela, e não vive com nenhum pressuposto teórico sobre a
vida, nem fica especulando sobre as coisas que vão além da percepção
dos sentidos, ou seja, pelo o que lhe parece.
A noção da suspensão do juízo (epoché) é central e característica ao
ceticismo. Pois para chegar à suspensão do juízo é preciso opor o que
as doutrinas dogmáticas dizem sobre a vida. Para o cético, as doutrinas
dogmáticas possuem igual força de persuasão argumentativa. Ora,
o cético pirrônico considera que se toda a filosofia é discurso,
então todo discurso é persuasivo. Isso o leva a suspensão do juízo,
já que a verdade parece que não é possível de ser alcançada,
e em seguida, suspende o juízo, e, assim, chega à tranquilidade da alma.
ceticismo. Pois para chegar à suspensão do juízo é preciso opor o que
as doutrinas dogmáticas dizem sobre a vida. Para o cético, as doutrinas
dogmáticas possuem igual força de persuasão argumentativa. Ora,
o cético pirrônico considera que se toda a filosofia é discurso,
então todo discurso é persuasivo. Isso o leva a suspensão do juízo,
já que a verdade parece que não é possível de ser alcançada,
e em seguida, suspende o juízo, e, assim, chega à tranquilidade da alma.
A oposição não diz sobre negação ou afirmação de uma teoria, mas na
igualdade que diz respeito à credibilidade do discurso argumentativo ou
falta dele, de modo que nenhum dos pensamentos em conflito
argumentativo, por mais convincente que pareça, é superior.
A suspensão se trata de estagnação do pensamento,
que se deve de não se rejeitar nem afirmar, e quanto à tranquilidade,
é a ausência de perturbações, a quietude da alma.
Esse movimento do cético pirrônico de igualar as teses e os
argumentos persuasivos é conhecido como isosthenia.
igualdade que diz respeito à credibilidade do discurso argumentativo ou
falta dele, de modo que nenhum dos pensamentos em conflito
argumentativo, por mais convincente que pareça, é superior.
A suspensão se trata de estagnação do pensamento,
que se deve de não se rejeitar nem afirmar, e quanto à tranquilidade,
é a ausência de perturbações, a quietude da alma.
Esse movimento do cético pirrônico de igualar as teses e os
argumentos persuasivos é conhecido como isosthenia.
II – O ceticismo romano – Sexto Empírico e a Academia
Pirro, assim como Sócrates, não deixará nenhum material escrito para a
posterioridade. A maior parte dos seus ensinamentos são registros de sua
postura e dos ensinamentos aos discípulos, principalmente por seu pupilo,
Tímon de Fliunte (320 a.C. — 230 a.C). Com a morte do mestre, o ceticismo
se desenvolve, principalmente com o embate as filosofias dogmáticas, até
chegar a Academia de Platão. Figuras como Arcesilau (316 a.C – 241 a.C) e
Carnéades (214 a.C - 129 a.C), acadêmicos que em seus embates com o
estoicismo, fundaram os preceitos teóricos para as dúvidas céticas dos
sistemas filosóficos, e Enesidemo (150 a.C - 70 a.C), que retomou a noção
de epoché, do ceticismo pirrônico, para resolver problemas
epistemológicos¹ resultantes dos embates argumentativos.
posterioridade. A maior parte dos seus ensinamentos são registros de sua
postura e dos ensinamentos aos discípulos, principalmente por seu pupilo,
Tímon de Fliunte (320 a.C. — 230 a.C). Com a morte do mestre, o ceticismo
se desenvolve, principalmente com o embate as filosofias dogmáticas, até
chegar a Academia de Platão. Figuras como Arcesilau (316 a.C – 241 a.C) e
Carnéades (214 a.C - 129 a.C), acadêmicos que em seus embates com o
estoicismo, fundaram os preceitos teóricos para as dúvidas céticas dos
sistemas filosóficos, e Enesidemo (150 a.C - 70 a.C), que retomou a noção
de epoché, do ceticismo pirrônico, para resolver problemas
epistemológicos¹ resultantes dos embates argumentativos.
É importante notar que o ceticismo Acadêmico é diferente do ceticismo
Pirrônico. A diferença consiste, em termos simples, em que o ceticismo
Acadêmico recusa a possibilidade de existir qualquer conhecimento
verdadeiro sobre natureza. Enquanto que o ceticismo pirrônico,
ao contrapor tanto a filosofia dogmática com o ceticismo
Acadêmico chega à conclusão que não é possível ter um critério
suficiente para validar qualquer hipótese, já que ambas são totalmente
excludentes, e diante de tal impossibilidade de validar qualquer
conhecimento, suspende o juízo e atinge a tranquilidade da alma,
ou a imperturbabilidade.
Pirrônico. A diferença consiste, em termos simples, em que o ceticismo
Acadêmico recusa a possibilidade de existir qualquer conhecimento
verdadeiro sobre natureza. Enquanto que o ceticismo pirrônico,
ao contrapor tanto a filosofia dogmática com o ceticismo
Acadêmico chega à conclusão que não é possível ter um critério
suficiente para validar qualquer hipótese, já que ambas são totalmente
excludentes, e diante de tal impossibilidade de validar qualquer
conhecimento, suspende o juízo e atinge a tranquilidade da alma,
ou a imperturbabilidade.
O ceticismo pirrônico tem a sua máxima expressão com Sexto Empírico
(160 d.C - 210 d.C). O ceticismo de Sexto consiste em dividir as escolas
filosóficas em três: os Dogmáticos, que acreditam terem encontrado a
verdade; os Acadêmicos, que acreditam na impossibilidade de constituir
um conhecimento; e nos céticos, os que suspendem o juízo e continuam
investigando. Suas principais obras são as Hipotiposis Pirrônicas e os
Adversus Mathematicos. A primeira consiste nos seus comentários sobre
o ceticismo e os segundo, os seus embates contra as filosofias
dogmáticas.
(160 d.C - 210 d.C). O ceticismo de Sexto consiste em dividir as escolas
filosóficas em três: os Dogmáticos, que acreditam terem encontrado a
verdade; os Acadêmicos, que acreditam na impossibilidade de constituir
um conhecimento; e nos céticos, os que suspendem o juízo e continuam
investigando. Suas principais obras são as Hipotiposis Pirrônicas e os
Adversus Mathematicos. A primeira consiste nos seus comentários sobre
o ceticismo e os segundo, os seus embates contra as filosofias
dogmáticas.
Sexto Empírico, além de comentar as filosofias dogmáticas, também era
médico, e incluía, em sua prática, elementos da filosofia cética.
Sexto também foi um importante doxografo das filosofias romanas
e helenistas. A redescoberta de seus textos terão importantes
impactos no renascimento e no desenvolver
da filosofia moderna.
médico, e incluía, em sua prática, elementos da filosofia cética.
Sexto também foi um importante doxografo das filosofias romanas
e helenistas. A redescoberta de seus textos terão importantes
impactos no renascimento e no desenvolver
da filosofia moderna.
III – O ceticismo de Montaigne
No renascimento, a figura cética mais digna de nota será Michel de
Montaigne (1533 – 1592). Nos Ensaios, Montaigne retoma importantes
elementos do ceticismo pirrônico de Sexto Empírico. Além da dúvida,
Montaigne contrapõe as filosóficas dogmáticas e acaba chegando à
suspensão do juízo. E Montaigne, tal como Sexto, continua
investigando.
Montaigne (1533 – 1592). Nos Ensaios, Montaigne retoma importantes
elementos do ceticismo pirrônico de Sexto Empírico. Além da dúvida,
Montaigne contrapõe as filosóficas dogmáticas e acaba chegando à
suspensão do juízo. E Montaigne, tal como Sexto, continua
investigando.
A retomada do ceticismo de Montaigne terá impactos na filosofia
moderna. Ora, o ceticismo, com a suspensão do juízo oferece
uma impossibilidade à constituição de qualquer conhecimento verdadeiro.
Desta forma, o ceticismo se mostra como um obstáculo a ser
superado para fundar qualquer conhecimento verdadeiro.
moderna. Ora, o ceticismo, com a suspensão do juízo oferece
uma impossibilidade à constituição de qualquer conhecimento verdadeiro.
Desta forma, o ceticismo se mostra como um obstáculo a ser
superado para fundar qualquer conhecimento verdadeiro.
IV – O ceticismo como obstáculo ao conhecimento
O ceticismo, na filosofia moderna, se mostra como um
obstáculo ao conhecimento verdadeiro. Além de contrapor os
argumentos filosóficos, o ceticismo trás consigo uma
dúvida sistêmica. Essa dúvida se insere como uma forma a procurar
contradições no discurso dogmático. E como o discurso dogmático
se apresenta como possuidor da Verdade universal e do conhecimento
verdadeiro sobre o mundo, o ceticismo ao duvidar dos princípios da
teoria dogmática, estabelece um risco ao discurso dogmático.
obstáculo ao conhecimento verdadeiro. Além de contrapor os
argumentos filosóficos, o ceticismo trás consigo uma
dúvida sistêmica. Essa dúvida se insere como uma forma a procurar
contradições no discurso dogmático. E como o discurso dogmático
se apresenta como possuidor da Verdade universal e do conhecimento
verdadeiro sobre o mundo, o ceticismo ao duvidar dos princípios da
teoria dogmática, estabelece um risco ao discurso dogmático.
Portanto, o ceticismo, na filosofia moderna, se mostra como um
adversário a ser superado. O ceticismo vira uma caricatura, uma
simplificação, para que seja superado. Não é mais a postura de
suspensão do juízo ou da contraposição de dogmas, mas a postura
de sempre duvidar, de executar uma dúvida sistêmica em qualquer
forma de construir algum conhecimento verdadeiro.
Entretanto, o cético para de duvidar quando a duvida chega ao
plano da percepção sensível.
adversário a ser superado. O ceticismo vira uma caricatura, uma
simplificação, para que seja superado. Não é mais a postura de
suspensão do juízo ou da contraposição de dogmas, mas a postura
de sempre duvidar, de executar uma dúvida sistêmica em qualquer
forma de construir algum conhecimento verdadeiro.
Entretanto, o cético para de duvidar quando a duvida chega ao
plano da percepção sensível.
[1]
Ora, com a impossibilidade de constituir um sistema filosófico dogmático,
dada as dúvidascéticas dos sistemas, trás um problema de como conhecer
alguma coisa e se é possívelconhecer algo.
A suspensão do juízo retoma a importância de viver a vida
prática e quenão se é necessário um conhecimento especulativo para viver.
O que implica, entretanto,que o único conhecimento válido
é o conhecimento prático, tal como o da medicina e dasciências práticas.
dada as dúvidascéticas dos sistemas, trás um problema de como conhecer
alguma coisa e se é possívelconhecer algo.
A suspensão do juízo retoma a importância de viver a vida
prática e quenão se é necessário um conhecimento especulativo para viver.
O que implica, entretanto,que o único conhecimento válido
é o conhecimento prático, tal como o da medicina e dasciências práticas.
Bibliografia
Bett, Richard et
al, The Cambridge Companion to Ancient Scepticism, Cambridge
University Press, New York, NY, 2010.
University Press, New York, NY, 2010.
Porchat, Oswaldo, Rumo ao ceticismo, Editora UNESP, São Paulo, 2007.
Sexto Empírico, Hipotiposes Pirrônicas, Livro I, tradução de Danilo Marcondes.
Sharples, R.W, Stoics,
Epicureans and Sceptics, An introduction to Hellenistic
Philosophy, Routledge, New York, NY, 2002.
Philosophy, Routledge, New York, NY, 2002.
Wolter, Katarina Maurer, Um estudo sobre a relação entre
filosofia cética e
criação ensaística em Michel de Montaigne, Revista Dois pontos, Curitiba,
São Carlos, vol. 4, n. 2, p.159-170, outubro, 2007.
criação ensaística em Michel de Montaigne, Revista Dois pontos, Curitiba,
São Carlos, vol. 4, n. 2, p.159-170, outubro, 2007.
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